As reformas da Segurança Social, passadas e futuras, vão degradar-se. Se não quiser deixar o seu futuro dependente das decisões políticas, comece a preparar já a reforma.
Os portugueses não têm por hábito pensar na pensão de reforma. Segundo o último Inquérito à Literacia Financeira dos portugueses realizado pelo Banco de Portugal e publicado em junho de 2021, apenas 24% dos inquiridos refere que poupa para a reforma (menos de um quinto). A generalidade dos entrevistados (84,5%) deposita o seu futuro nas mãos do Estado, afirmando que irá financiar a sua reforma através dos descontos para a Segurança Social ou outro regime contributivo obrigatório.
Estes resultados não seriam preocupantes se estivéssemos em 2005, um ano antes da última reforma da Segurança Social. Nessa altura, para os reformados, os anos após a vida ativa tinham brilho: um trabalhador com 40 anos de descontos e um vencimento líquido de 730 euros (valor do salário médio nacional da altura) podia esperar uma reforma 13,2% superior ao último ordenado recebido. Era uma taxa de substituição recorde entre os países pertencentes à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) mas insustentável a longo prazo. Hoje, a realidade é bastante diferente.
Quanto mais cedo começar a poupar melhor
O sucesso para alcançar uma reforma tranquila prepara-se no presente. Isso começa por abandonar a ideia de dependência exclusiva do Estado e, principalmente, tomar as rédeas da sua reforma o mais cedo possível.
Um ponto de partida é traçar um plano de poupança que siga a teoria do ciclo de vida, desenvolvida em 1953 pelo prémio Nobel da Economia Franco Modigliani. Esta teoria diz que o peso das despesas familiares sobre o rendimento baixa à medida que o tempo passa e, em contrapartida, a poupança aumenta sem comprometer o presente.
É fácil perceber a ideia defendida por Modigliani. Se no começo da vida profissional, quando os salários são mais reduzidos, as despesas como a prestação do crédito à habitação e as despesas com os filhos pesa mais no orçamento das famílias; com a evolução da carreira profissional, que proporciona salários mais elevados, essas despesas acabarão por ser acomodadas no orçamento com o crescimento dos rendimentos, pesando menos nas contas da família e gerando maiores níveis de poupança.
Na prática, a teoria do ciclo de vida aponta para uma decisão de consumo intemporal, em que se troca algum do consumo no presente por um consumo futuro. No contexto do investimento e da construção de um complemento de reforma robusto, isto significa que quanto mais cedo seguir este princípio, menor será o esforço da poupança e maior será a recompensa.
Imagine dois investidores: A Maria, que começa a investir para a reforma aos 20 anos de idade, assim que entra no mercado de trabalho; E o António, que apenas começa a poupar para a sua reforma aos 35 anos. Assumindo uma rendibilidade média anual de 5% dos ativos em que ambos colocam as suas poupanças mensais, enquanto a Maria necessitará de poupar 65 euros por mês para chegar aos 60 anos com um “pé-de-meia” de 100 mil euros, o António, para chegar a essa fasquia, necessitará de poupar 167 euros todos os meses, quase o dobro que a Maria.
Esta diferença é explicada por dois elementos-chave: O número de anos em que é realizada a poupança (quanto maior o prazo de investimento, maior será o bolo no final) e o efeito matemático da capitalização dos juros ao longo do período de investimento que Albert Einstein, prémio Nobel da Física em 1921, um dia considerou ser uma das maiores forças do universo.
Preparar o futuro sem hipotecar o presente
Num plano de poupança a longo prazo, como é a construção de um complemento reforma, quanto mais cedo começar a poupar, menor é o esforço no presente. Por exemplo, para atingir um “pé-de-meia” de 100 mil euros a 40 anos é necessário fazer um esforço mensal de apenas 65 euros por mês. Mas se o prazo do investimento for reduzido para 20 anos, a poupança mensal terá de ser 3,7 vezes superior, cerca de 242 euros*.
Nota: *Para efeitos de exemplo, foi considerado como referência para o cálculo destes valores uma taxa de rendibilidade anual do investimento de 5%.
Fonte: Eco.sapo.pt